No dia 12 de junho do ano 2000 aconteceu um episódio que paralisou o país. Sandro Barbosa do Nascimento, sobrevivente da Chacina da Candelária, sequestrou o ônibus da linha 174 por quase 5 horas. Em razão desse sequestro, ele a professora Geísa Firmo Gonçalves, que estava grávida de dois meses, acabaram mortos.
Sandro não chegou a esse ponto de uma hora para outra. A sua condição de criança pobre, negra, abandonada pelo pai, foi decisiva para a sua entrada no mundo do crime, conforme retratado no filme/documentário Ônibus 174, do diretor José Padilha. Criado apenas pela mãe, ele presenciou o assassinato dela na favela onde moravam, aos 8 anos de idade. A partir daí foi viver nas ruas e adotou o apelido de “Mancha”. Tornou-se um viciado em drogas e passou a roubar para manter o vício. Sandro nunca aprendeu a ler ou escrever, apesar de ter sido mandado para inúmeras instituições de atendimento a jovens infratores.
Sandro era um entre as dezenas de jovens sem teto que frequentavam as escadarias e arredores da Igreja da Candelária, no Rio de Janeiro, onde recebiam comida e abrigo. No dia 23 de julho de 1993, aos 15 anos, ele também estava dormindo lá, quando dois Chevettes com placas cobertas pararam em frente à Igreja. Em seguida, os ocupantes do carro, que eram milicianos, atiraram contra todos eles. 08 morreram e vários ficaram feridos. Sandro foi um dos que escaparam ilesos, mas permaneceu vivendo na rua e no mundo do crime, assim como os demais sobreviventes. De acordo com a Anistia Internacional, dos setenta jovens que viviam naquela região naquele período, mais de quarenta, todos pobres e negros, já perderam a vida de forma violenta.
07 anos depois da chacina da Candelária, às 14h20 daquela segunda-feira, 20 de junho, Sandro entrou no ônibus 174. De bermuda, camiseta e um revólver calibre 38 à mostra, ele pulou a roleta e sentou-se próximo a uma das janelas. Vinte minutos depois, um dos passageiros conseguiu sinalizar para um carro da polícia que passava pela rua. O ônibus, então, foi interceptado por dois policiais. Nesse momento, o pânico já havia se instalado. O motorista e o cobrador abandonaram o veículo e alguns passageiros também conseguiram escapar, pulando pelas janelas e pela porta traseira. Dez passageiras, porém, foram feitas reféns. Luciana Carvalho foi uma das primeiras que teve a arma colocada na cabeça. Sandro a levou para a frente do ônibus e queria que ela dirigisse o veículo. Foi ali que o sequestrador fez o primeiro disparo, um tiro contra o vidro do ônibus, feito para intimidar os fotógrafos e cinegrafistas no local.
Foram horas de pavor. Sandro ameaçou outras reféns, mas não atirou em ninguém. Às 18h50, ele decidiu sair do ônibus usando a professora Geísa Firmo Gonçalves como escudo. Ao descer, um policial do Grupamento de intervenção tática tentou alvejar Sandro com uma submetralhadora e acabou errando o tiro, acertando a refém de raspão no queixo. Sandro então deu três tiros nas costas de Geísa. Com sua refém morta, Sandro foi imobilizado enquanto uma multidão correu para tentar linchá-lo. Ele foi colocado na viatura policial e foi morto por asfixia ali dentro. Os policiais foram inocentados de sua morte.
Apenas a avó de Sandro compareceu ao enterro dele. Geísa Firmo Gonçalves foi enterrada em Fortaleza/CE e seu cortejo foi acompanhado por mais de 3.000 pessoas.
Ambos são vítimas da absoluta falência do sistema de segurança pública brasileiro.